Sim, a cabeça também tem fomes

Como o reconhecimento das suas fomes emocionais determinam as suas forças de caráter e auxiliam na construção das Redes de Inteligência Coletiva.

Comida, a famosa música dos Titãs, traz uma provocação interessante: “Você tem fome de quê?” Pra gente, a pergunta pode ser mais profunda do que parece.

Em psicologia é possível encontrar o que chamamos de “fomes emocionais”, necessidades que instintivamente procuramos atender para ter uma boa vida. E eu vou destacar aqui 2 teorias diferentes que se propõem a atuar sobre ela questão: a Teoria da Escolha e a Teoria da Autodeterminação.

Segundo a Teoria da Escolha, todos nós optamos por maximizar nossos próprios interesses diante de uma decisão, buscando resultados que nos tragam maior satisfação. Ou seja: fazemos a melhor escolha possível que o contexto permite, a partir dos dados a que temos acesso naquele momento.

Já a Teoria da Autodeterminação é um modelo psicológico que explica a motivação humana como um processo que se baseia em três necessidades psicológicas básicas: Vínculo, Autonomia e Competência. Há literaturas mais desenvolvidas que adicionam 2 outras importantes “fomes” ao contexto: Diversão e Segurança

A Fundação Geniantis, organização que criei para desenvolver um processo educacional a partir do fortalecimento de vínculos e implantar as Redes de Inteligência Coletiva em escolas de todo o Brasil, utiliza esta teoria no seu dia-a-dia. Como fazemos isso? Primeiro: é fundamental compreender cada uma dessas “fomes” à luz da educação.

A fome de Vínculo, por exemplo, representa a necessidade humana de se conectar emocionalmente com outras pessoas – no contexto escolar, se traduz na busca dos estudantes por relações de afeto e mais acolhimento pois, quando os vínculos estão presentes, eles se sentem valorizados e com sua autoestima fortalecida. Já a fome de Autonomia refere-se à necessidade de tomar decisões e sentir que se tem controle sobre a própria vida; na escola, significa que os alunos opinam sobre como desejam aprender, participam das decisões da turma e exploram caminhos próprios para resolver problemas. A fome Competência está relacionada ao desejo de sentir-se capaz e eficaz diante das tarefas e desafios propostos – quando estudantes percebem que são bons em algo, sua motivação e confiança aumentam. A fome de Segurança diz respeito à sensação de estar protegido física e emocionalmente, no ambiente escolar, envolve a certeza de que erros não serão punidos com vergonha, que conflitos serão tratados com justiça e que o aluno será respeitado em sua individualidade… só assim os estudantes se sentem livres para se expressar, correr riscos e enfrentar desafios. Finalmente, a fome de Diversão é uma necessidade legítima do ser humano e desempenha papel essencial na aprendizagem, pois está ligada à alegria de viver experiências significativas e prazerosas – incorporar o lúdico, a criatividade e o humor às práticas pedagógicas também aumenta o engajamento dos alunos e facilita a retenção de conteúdo. 

Como trabalhamos as Fomes na prática?

Ao considerar que todos os atores do ambiente escolar (diretores, gestão, professores, alunos e seus familiares) terão melhor desempenho e qualidade de vida se tiverem suas fomes atendidas, buscamos oferecer um caminho para que isto aconteça de forma recíproca. É aí que entram as 24 Forças de Caráter. Quando reconhecemos que cada indivíduo tem a propensão de usar algumas forças de maneira mais natural e instintiva, traçamos um caminho para a construção de bons relacionamentos.

Este conjunto de forças que tendemos a utilizar de maneira preponderante é conhecido como Forças de Assinatura e normalmente são cinco ou seis, no máximo.

Imagine um indivíduo que possua a força Criatividade na sua assinatura. Isso quer dizer que ele tem grande facilidade de desenvolver coisas novas, mas também que possui uma certa tendência a exagerar no uso dela. Será necessário recorrer a outras forças que eventualmente tenha, como Autorregulação ou Prudência, para equilibrar suas ações. Se sua equipe de trabalho tem conhecimento desta tendência, com suas próprias forças pode auxiliá-lo a usar a Criatividade de maneira adequada – isto também permite que o indivíduo faça o mesmo movimento com sua equipe.

Este é um bom exemplo de como as Forças ajudam a saciar as Fomes. Foi assim que fizemos da própria Geniantis uma Rede de Inteligência Coletiva.  De maneira simples e resumida, podemos dizer que uma RICa é um ambiente em que todos conhecem e praticam suas Forças para saciar as Fomes uns dos outros, permitindo desenvolvimento e bem-estar. 

Os benefícios da RICa aplicada no contexto escolar são poderosos. Uma escola RICa proporciona desenvolvimento acadêmico e socioemocional, preparando melhor os alunos para a vida (e não apenas para o Enem ou Vestibular). Desenvolve educadores que se sentem reconhecidos e, por isso, menos sujeitos ao estresse. Ativa outras RICas nas famílias dos alunos e influencia o entorno. Considero um grande passo a ser dado, pois outra grande fome que temos no país é de uma educação melhor!

Ah, e se você ficou curioso para saber quais são as suas forças, convido a fazer o teste gratuito no nosso site: geniantis.org/via