Uma Rede de Inteligência Coletiva é um grupo de pessoas que constrói um espaço seguro, confiável e cooperativo em que cada indivíduo é incentivado a aprender, se expressar e contribuir com suas maiores forças e talentos.
O estresse crônico é um grande vilão da nossa sociedade. Pode ser identificado em praticamente todas as faixas etárias, extratos sociais, nos grandes centros e nas pequenas cidades. Resultado direto do estilo de vida contemporâneo, tem recebido cada vez mais atenção de médicos, psicólogos e sociólogos; entretanto, estes vêm trabalhando muito mais no sentido de aliviar suas consequências ao invés, talvez, de focar em minimizar as causas.
A Associação Americana de Psicologia (APA – sigla em inglês) define estresse como uma resposta emocional e/ou física causada por gatilhos externos. A origem do estresse como questão de saúde pública é relativamente recente. Em 1987, o exército norte-americano se propôs a estudar em profundidade o cenário mundial pós guerra-fria e a queda do muro de Berlim. A conclusão é de que o mundo – antes dividido em 2 blocos – tornou-se mais complexo e fragmentado. É o mundo VICA, marcado por Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade. Numa era de sobrecarga de informação e pressões cotidianas crescentes – isso sem falar das mídias sociais! – é de se imaginar que o estresse seja cada vez mais comum.
Mas, afinal, qual o problema do estresse?
Em várias ocasiões, o estresse tem um papel positivo. Quando nos é exigida uma reação rápida ou um esforço intenso, momentaneamente nossa pulsação aumenta, o coração acelera e o cérebro injeta uma dose extra de adrenalina no organismo. É o que acontece, por exemplo, quando precisamos frear o carro de repente para evitar um acidente. Mas este é um pico que, em pouco tempo, volta ao normal e o organismo volta à condição anterior. O problema surge quando situações de estresse começam a ser tão frequentes que o organismo não tem tempo de voltar ao normal. Isto tem consequências sociais, físicas e psicológicas.
Os danos sociais compreendem a queda no desempenho profissional, ausências no trabalho, acidentes, conflitos domésticos e apatia. O físico é impactado por doenças psicossomáticas como úlceras, alergias, asma, enxaquecas, queda de cabelo, alcoolismo, disfunções coronarianas e circulatórias. No âmbito psicológico os danos navegam por instabilidade emocional, ansiedade, agressividade, irritabilidade, depressão e a temida Síndrome de Burnout.
Já dizia Tom Jobim: “É impossível ser feliz sozinho”.
A Universidade de Harvard conduz há mais de 80 anos o maior estudo sobre felicidade do mundo, acompanhando desde 1938 a vida 700 pessoas, em todos os estágios de suas vidas. O “Estudo sobre o Desenvolvimento Adulto”, que dura até hoje, buscou compreender o que faz as pessoas se declararem felizes e considerar que têm uma boa vida. O resultado aponta que, mais do que sucesso profissional, ascensão social, fama ou reconhecimento, o que faz uma boa vida é a qualidade de seus relacionamentos. Em uma entrevista, o atual pesquisador chefe desta pesquisa, Dr. Robert Waldinger, confessou que a equipe foi surpreendida pelo resultado. Então decidiram ir mais fundo, cruzando as informações com outros estudos relevantes e descobriram que os bons relacionamentos diminuem o estresse. E não estamos falando de relacionamentos românticos. Foi constatado que uma pessoa que no final do dia tenha alguém próximo – mesmo que seja um contato por telefone ou virtual – tem menos propensão a ficar estressada.
Redes de Inteligência Coletiva favorecem os bons relacionamentos
Se boas relações cotidianas já ajudam a desestressar, Bons Relacionamentos desenvolvidos intencionalmente de maneira sistemática são muito mais poderosos. Nas Redes de Inteligência Coletiva (as RICa) os relacionamentos são estabelecidos a partir de uma base comum, que inclui as 24 Forças de Caráter e as 5 fomes sócio-emocionais.
Imagine uma sala de aula tradicional do ensino médio. Alguns estudantes dispersos, outros prestando alguma atenção, brincadeiras paralelas, uma aula talvez enfadonha ou difícil – uma professora que já está cansada de lidar com situações semelhantes, turma após turma, aula após aula. Não há vínculo, e, portanto, o grupo não forma uma identidade.
Mas uma sala de aula RICa é bem diferente. Alunos e professora formam uma rede em que todos os pontos se interligam. A professora deixa de ser um polo emissor de conhecimento para exercer um papel de liderança no processo individual e coletivo de aprendizado. Alunos retroalimentam uns aos outros, criando um ambiente acolhedor que estimula todos a baixarem suas barreiras e estabelecerem relacionamentos verdadeiros. Em ambientes assim, é muito mais difícil que o estresse entre.
As RICa podem ser formadas em vários contextos: na família, no relacionamento conjugal, no ambiente de trabalho, no clube, na escola, na igreja. Tem o potencial de elevar os níveis de realização pessoal e coletiva, estabelecer laços fortes e criar uma rede de proteção. Tudo isso minimiza o estresse. Nas palavras do Dr. Waldinger, “o que importa é ter bons relacionamentos”. E ponto final.