Construindo Redes de Inteligência Coletiva (RICas) a partir das forças pessoais dos seus participantes

Uma Rede de Inteligência Coletiva é um grupo de pessoas que constrói um espaço seguro, confiável e cooperativo em que cada indivíduo é incentivado a aprender, se expressar e contribuir com suas maiores forças e talentos

Nem todo coletivo de pessoas estabelece o que chamamos de Rede de Inteligência Coletiva – ainda que estas pessoas tenham objetivos e desejos em comum. Por exemplo: os colaboradores de uma fábrica, embora trabalhem todos para o mesmo fim, normalmente operam em estruturas mais ou menos centralizadas, que giram em torno de um supervisor, que está subordinado a um gerente, que por sua vez responde a um diretor que… bem, você já entendeu.

O que torna um grupo de indivíduos numa RICa é a predisposição intencional de cada um dos membros em criar laços fortes com os demais. Mas como fazer isto, se existem tantas diferenças de perfil, comportamento, habilidades e interesses? Uma resposta é estabelecer uma linguagem positiva, compartilhada e compreendida por todos os integrantes, baseando-se nas forças de caráter de cada um.

Como surgiram as 24 Forças de Caráter?

No final da década de 1990, os psicólogos Martin Seligman – então presidente da American Psychological Association – e Christopher Peterson conduziram um estudo a partir de textos filosóficos, religiosos e culturais de diferentes épocas e civilizações, buscando traços de personalidade universalmente valorizados. Chegaram às 24 Forças de Caráter – ou Forças Pessoais – que estão distribuídas em 6 virtudes. Embora cada força tenha um papel específico na formação das RICas, o ponto aqui é mostrar como a linguagem das 24 Forças favorece as Redes de Inteligência Coletiva.

Como opera a linguagem das 24 Forças de Caráter

Em primeiro lugar, a linguagem das 24 Forças favorece a criação de laços fortes. Isto porque todos nós temos as 24 Forças presentes em nossa personalidade, mesmo que em sequência e intensidades diferentes. Quando eu me relaciono com os outros, reconhecendo suas Forças, meu cérebro automaticamente estabelece conexões entre elas e minhas próprias Forças. Assim, deixamos de lado as impressões apressadas e superficiais (pré-julgamentos) e ganhamos elementos que permitem compreender o que leva a pessoa a se apresentar daquela maneira.

Por exemplo: quando um professor rotula um aluno como “bagunceiro”, há pouco a ser feito; a partir de agora, este aluno é e sempre será visto como estorvo na sala. Mas se o professor, ao invés de rotular, reconhecer que aquele aluno tem a Força Liderança em excesso, pode trabalhar com este aluno para que esta Força seja dosada e redirecionada para uma aplicação construtiva. É provável que este aluno continue a ser um líder, mas desta vez exercendo isto de uma forma que contribui para o coletivo – quem sabe até ajudando o professor!

Ambientes seguros favorecem o desenvolvimento.

Para além de acabar com os rótulos e seus preconceitos, a linguagem das Forças também é apreciativa. Tem a capacidade de criar um ambiente em que as pessoas se sentem protegidas e seguras, podem expressar suas ideias sem receio de serem julgadas. Isto tem um impacto relevante no seu desempenho. Nas RICas, o potencial do grupo é sempre maior que a soma dos potenciais individuais. As Forças de um complementam as do outro, suprindo as necessidades individuais e coletivas. A RICa desenvolve uma poderosa persona, capaz de alavancar grandes realizações.

Uma prática cotidiana 

Mais do que uma teoria inspiradora, esta é uma linguagem prática. As 24 Forças de Caráter devem ser compreendidas, mas é importante também que sejam recorrentemente treinadas e aplicadas no cotidiano. Ainda que as Forças possam ser usadas internamente, para autoconhecimento, o poder delas se manifesta quando a linguagem é adotada por um grupo.

A linguagem das Forças estabelece um novo paradigma: não basta pensar em si, pois os melhores resultados são alcançados quando se pensa em si e no grupo ao mesmo tempo. A competição dá lugar à colaboração, e o limitado esforço solitário é substituído pelo poder das Redes de Inteligência Coletiva. Neste contexto, aquele professor agora já não rotularia alunos; ao contrário, ele se sente mais energizado, apresenta menores níveis de estresse e participa de uma RICa que envolve toda a turma. Tem o prazer de se relacionar com cada aluno e vê que a turma alcança um desempenho acadêmico elevado.

Não tem como esperar valor maior de um sistema de educação.